Tino Alves – Ativista

As atividades da ONG geralmente coincidiam com os festejos das comunidades, que têm grande importância e o Caio sempre fez
questão de participar, para poder até ter mais intimidade com as comunidades, ganhar mais autonomia para falar com mais propriedade, isso acontece até hoje.

Teve uma vez na aldeia Karitiana, percebemos que fazia muito tempo que eles não cantavam na língua deles, não exaltavam o seu pajé que ficava ali no cantinho, esquecido. Fizemos questão de valorizar a figura do pajé, que é conselheiro, curandeiro, feiticeiro e intermediário espiritual de uma comunidade indígena. Acabamos criando uma situação para que eles se mobilizassem e realizassem eventos culturais na aldeia. Eles acabaram construindo um galpão, decoraram tudo com penas, ficou a coisa mais linda. Dançaram, fizeram os cânticos sagrados e quando o Caio se aproximou para o Pajé rezar para ele, a gente sentiu uma energia, uma força espiritual incrível. Foi maravilhoso. Era o pajé dominando a situação. Isso foi muito bom para os jovens perceberem essa força do pajé e exaltarem a cultura do seu povo.

Não podia deixar de falar da Dona Preta, uma senhora de 90 anos, uma benzedeira muito conhecida, tem música, tem tudo sobre ela,  só não tem filme nem foto pois ela não deixa ser fotografada, porque acredita que sendo fotografada seu espírito pode ser levado e podem fazer algum mal. Mas com o Caio é diferente, ela acha que ele é um anjo, ele é a única pessoa no mundo que tem foto com ela.

Eu já vi vários fotógrafos que passaram dias lá tentando tirar uma foto e não conseguiram. O Caio tem até vídeo. Eu participei desses momentos do chamado, vi o Caio construir um vínculo com a Dona Preta, tanto é que às vezes ela o chama através do sonho e ele vai até lá. Isso é muito legal.

O Caio valoriza muito a cultura dos povos, respeita os mais velhos e os que precisam ser priorizados nos atendimentos. Quantas vezes eu não o vi pedindo para atender primeiro os idosos, as gestantes, mulheres e crianças.

Eu já tinha feito alguns trabalhos com a Neidinha, dirigente da ONG Kanindé e tínhamos muito respeito e confiança mútua. Consegui um encontro com o Caio e já saímos de lá já acertados com uma missão autorizada pelo Almir Suruí, para acontecer no ano seguinte.

Nós começamos os atendimentos nas aldeias, uns 11 povos, depois fomos adentrando para atendimento dos povos mais isolados. Foi lindo, quantas descobertas, quanto trabalho a gente conseguiu realizar.

Pegando o gancho, tenho uma outra história para contar: a gente estava pela primeira vez na aldeia, dei o recado do cacique para o Caio que às 5h tínhamos que parar tudo para jogarmos futebol. O Caio quis continuar com os atendimentos, só que, quando deu o horário, não tinha ninguém nos consultórios para ser atendido. Então não teve jeito, fomos todos trocar de roupa para jogar futebol. Levamos uma goleada de 11 a 1 e eu era o goleiro.

Eu aprendi muito durante esses anos, o Caio é um cara muito intuitivo, talvez seja algo que vem da ancestralidade dele, ele vai pelo instinto e funciona muito bem, a gente percebe que ele está muito bem amparado pelos espíritos. Ele é um cara que se preocupa muito com o próximo, com o atendimento, então, isso foi uma coisa que me cativou.

É impressionante, ele tem muita disciplina nos atendimentos. E olha que eu já acompanhei várias ONGs e dá para ver a diferença das Doutores da Amazônia, é tudo levado muito a sério.

E pude perceber que a família dele somos nós também, é o mundo, os ribeirinhos, os indígenas. Isso me emociona muito. Eu acho que ele faz um trabalho fenomenal, eu amo essa cara, porque ele é sensacional, o que ele puder fazer para ajudar ele faz.

Eu tenho muito orgulho de conhecer o Caio e esse equipe maravilhosa, de estar com ele nessa trajetória das Doutores da Amazônia.

Tenho certeza de que o livro vai ficar lindo.

Tino Alves
Ativista e professor.